Foi realizada em Roma,
junto ao túmulo do Apóstolo São Pedro, a peregrinação internacional da família
dentro do Ano da Fé. Esse evento, que reuniu 150 mil famílias, coincidiu com o
encerramento da XXI Assembleia Plenária do Pontifício Conselho da Família.
Constaram desse evento três jornadas dedicadas ao estudo e ao debate no 30º
aniversário da Carta dos Direitos da Família, publicada pelo mesmo dicastério
vaticano em 22 de outubro de 1983, sob o Pontificado do Beato João Paulo II. O
encontro, aberto ao público, debateu os "Novos horizontes antropológicos e
os direitos da família".
Declarou o Arcebispo
Dom Vincenzo Paglia, presidente do Conselho Pontifício para a Família, em
entrevista à Rádio Vaticano, que esta Carta dos Direitos da Família é defendida
e valorizada como meio "para que não nos esqueçamos de que a família, como
sujeito jurídico, é uma dimensão que transpassa os séculos, que não nasceu
anteontem nem há cem anos. Há uma dimensão que atravessa a história, que fez da
família o primeiro lugar em que aprendemos a estar juntos: a família é o
primeiro 'nós'".
As profundas palavras
do Santo Padre, o Papa Francisco, nesse evento, assim como a celebração, deixam
claro a importância do tema nesse momento da história da humanidade. Ele
recordou no encontro: “Quisestes chamar a este momento «Família, vive a alegria
da fé!» Gosto deste título! Entretanto, escutei as vossas experiências, os
casos que contastes. Vi tantas crianças, tantos avós... Pressenti a tristeza
das famílias que vivem em situação de pobreza e de guerra. Ouvi os jovens que
se querem casar, mesmo por entre mil e uma dificuldades. E então nos surge a
pergunta: Como é possível, hoje, viver a alegria da fé em família? Mas eu
pergunto-vos também: «É possível viver esta alegria ou não é possível?”. Na
Missa do domingo, na Praça de São Pedro, ele resumiu em três tópicos: a família
reza, a família guarda a fé, a família vive a alegria. E concluiu: “E, acima de
tudo, um amor paciente: a paciência é uma virtude de Deus e nos ensina, na
família, a ter este amor paciente um com o outro. Ter paciência entre nós. Amor
paciente. Só Deus sabe criar a harmonia a partir das diferenças. Se falta o
amor de Deus, a família também perde a harmonia, prevalecem os individualismos,
apaga-se a alegria. Pelo contrário, a família que vive a alegria da fé,
comunica-a espontaneamente, é sal da terra e luz do mundo, é fermento para toda
a sociedade.”
A família foi querida
por Deus desde que o Criador concedeu Adão e lhe deu Eva como esposa,
determinando que habitassem a Terra e se perpetuassem pelo seu amor esponsal.
Sabemos como a instituição familiar tem sido atacada por todos os lados:
instituições internacionais, legislações ideológicas, decretos do executivo,
julgamentos nos tribunais, propaganda sistemática na mídia – por todos os lados
há muito mais facilidade de se colocar contra a família do que a construção dos
valores positivos e essenciais dela. São tempos difíceis para a família e é
muito importante que, ao ser valorizada, saibamos da campanha contrária a ela
em tantos âmbitos de nossa sociedade. Como cidadãos, temos o direito de dar
nossas opiniões e manifestar nossas convicções, que são importantes para o
futuro da humanidade.
Assim, o Papa conclamou
os jovens voluntários no seu encontro no Riocentro durante a JMJ Rio 2013:
“Deus chama para escolhas definitivas, Ele tem um projeto para cada um:
descobri-Lo. Responder à própria vocação é caminhar para a realização feliz de
si mesmo. A todos Deus chama à santidade, a viver a sua vida, mas tem um
caminho para cada um. Alguns são chamados a se santificar constituindo uma
família por meio do sacramento do matrimônio. Há quem diga que hoje o casamento
está “fora de moda”. Está fora de moda? [Não…]. Na cultura do provisório, do
relativo, muitos pregam que o importante é “curtir” o momento, que não vale a
pena comprometer-se por toda a vida, fazer escolhas definitivas, “para sempre”,
uma vez que não se sabe o que reserva o amanhã. Em vista disso, eu peço que
vocês sejam revolucionários, eu peço que vocês vão contra a corrente; sim,
nisto peço que se rebelem contra esta cultura do provisório, a qual, no fundo,
crê que vocês não são capazes de assumir responsabilidades, crê que vocês não
são capazes de amar de verdade. Eu tenho confiança em vocês, jovens, e rezo por
vocês. Tenham a coragem de “ir contra a corrente”. E tenham também a coragem de
ser felizes!”
O Documento de
Aparecida nos fala dessa importância de valorizar a família e de tutelar os
seus direitos neste tempo de mudança de época: a família não é uma mera
instituição natural; antes, faz parte do projeto do Criador (cf. Gn 1,27), de
modo que “pertence à natureza humana que o homem e a mulher busquem um no outro
sua reciprocidade e complementaridade” (n. 116). Na plenitude dos tempos, o
Filho de Deus assumiu a nossa natureza humana e, “optando por viver em família
em meio a nós, a eleva à dignidade de ‘Igreja doméstica’” (n. 115). O amor
conjugal “é assumido no sacramento do matrimônio para significar a união de
Cristo com sua Igreja” (n. 117; cf. 175g; 433s). É na família que a pessoa
“descobre os motivos e o caminho para pertencer à família de Deus” (n. 118).
O Beato João Paulo II,
na Carta às Famílias de 1994, ensinou que: "Dentre essas numerosas
estradas, a primeira e a mais importante é a família: uma via comum, mesmo se
permanece particular, única e irrepetível, como irrepetível é cada homem; uma
via da qual o ser humano não pode separar-se.” Com efeito, normalmente ele vem
ao mundo no seio de uma família, podendo-se dizer que a ela deve o próprio fato
de existir como homem. Quando falta a família logo à chegada da pessoa ao
mundo, acaba por criar-se uma inquietante e dolorosa carência que pesará depois
sobre toda a vida. A Igreja une-se com afetuosa solicitude a quantos vivem tais
situações, porque está bem ciente do papel fundamental que a família é chamada
a desempenhar. Ela sabe, ainda, que normalmente o homem sai da família para
realizar, por sua vez, num novo núcleo familiar, a própria vocação de vida.
Mesmo quando opta por ficar sozinho, a família permanece, por assim dizer, o
seu horizonte existencial, como aquela comunidade fundamental onde se radica
toda a rede das suas relações sociais, desde as mais imediatas e próximas até
as mais distantes. Porventura, não usamos a expressão "família
humana" para nos referirmos ao conjunto dos homens que vivem no mundo?
(cf. número 02).
A Igreja protege a
família, célula sacramental que nasce do amor de um homem e de uma mulher, em
caráter indissolúvel, aberto à vida, promovendo três colunas vitais como
direitos inalienáveis: primeiro, a dignidade da pessoa humana; segundo, o
sacramento do matrimônio e terceiro a inviolabilidade da vida e da família.
Assim como os dogmas estão para a fé católica, estes três pilares estão para a
prática cristã dos batizados na Igreja Católica, que não devem se cansar de
defender os direitos da família constituída pelo amor verdadeiro e eterno.
Desde sempre, o lar
formado por Jesus, Maria e José é considerado como escola de amor, oração e
trabalho. Da mesma maneira, contemplando a Família Sagrada somos chamados a mostrar
ao mundo o amor, o trabalho e o serviço vividos diante de Deus, tal como os
viveu a Sagrada Família de Nazaré. As condições de vida mudaram muito e
progrediram enormemente nos âmbitos técnicos, sociais e culturais. Não podemos
contentar-nos com estes progressos. Juntamente com eles, devem estar sempre
presentes os progressos morais, como a atenção, a tutela e a ajuda à família,
porque o amor generoso e indissolúvel de um homem e de uma mulher constitui o
âmbito eficaz e o fundamento da vida humana na sua gestação, na sua iluminação,
no seu crescimento e no seu termo natural.
A família nunca cairá
de moda: só onde existem o amor e a fidelidade nasce e perdura a verdadeira
liberdade. Por isso, a Igreja luta por adequadas medidas econômicas e sociais
para que, no lar e no trabalho, a mulher encontre a sua plena realização, a fim
de que o homem e a mulher que contraem matrimônio e formam uma família sejam
decididamente apoiados pelo Estado; para que se defenda a vida dos filhos como
sagrada e inviolável, desde o momento da sua concepção; a fim de que a
natalidade seja dignificada, valorizada e apoiada jurídica, social e
legislativamente. Por isso, a Igreja opõe-se a todas as formas de negação da
vida humana e sustenta aquilo que promove a ordem natural no âmbito da
instituição familiar.
Ensina o Concílio
Ecumênico Vaticano II que: "Os próprios esposos, feitos à imagem de Deus e
estabelecidos numa ordem verdadeiramente pessoal, estejam unidos em comunhão de
afeto e de pensamento e com mútua santidade, de modo que, seguindo a Cristo,
princípio da vida, se tornem, pela fidelidade do seu amor, através das alegrias
e sacrifícios da sua vocação, testemunhas daquele mistério de amor que Deus
revelou ao mundo com a sua morte e ressurreição" (GS 52).
O Documento de Aparecida
nos ensina que a família se deve tornar “um dos eixos transversais de toda ação
evangelizadora da Igreja” (n. 435) – e neste âmbito a “infância” se torna
destinatária de uma ação “prioritária” da Igreja (n. 438). Por isso, a pastoral
familiar – em suas mais variadas expressões – há de “comprometer de maneira
integral e orgânica as outras pastorais, os movimentos e associações
matrimoniais e familiares a favor das famílias” (n. 437a). A principal bandeira
para valorizar a família é promover a formação e ação de leigos competentes,
animá-los a organizar-se para defender a vida e a família, e estimulá-los a
participar em organismos nacionais e internacionais.
Que a Sagrada Família
proteja as nossas famílias e que seus direitos sejam respeitados para o próprio
bem do futuro da humanidade!
Dom Orani João
Tempesta, O. Cist
Arcebispo Metropolitano
de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
Nenhum comentário:
Postar um comentário